domingo, 18 de abril de 2010

Eduardo: não resisti

Ele invadiu minha casa, como se fosse aqui o castelo dele. E na sua inconsciência felina, vai levando a existência em hábeis e macios pulos, quebrando a rotina do dia com súbitas hibernações de gato-menino. Ele nunca se exaspera, as ameaças do cão nada mais exige dele do que brandas patadas. Na rotina dos dias quentes, passa um tempo circulando com gratitude na vizinhança, depois volta, desfilando com orgulho suas sete vidas intactas. Gosta de brincar com as franjas velhas do tapete, pois tudo para ele é recentíssimo. Quando quer, usa pés e pernas como fonte de carícias, mas não atende ao miado falso quando o querem próximo. Come pra cachorro a ração para o cão que ele não é. Espalha pêlos claros, enevoando móveis, expulsando o sobrinho alérgico da vida deste tio displicente. Fez um estrago enorme nos jarros com plantas do quintal, pintando patas de lama nas escadas nestes dias de alguma chuva. Quando chego avariado e caio no sono, ele dorme no tapete ao lado a minha cama. Entendemo-nos muito bem em nossa compartilhada narcolepsia. E escorre seus músculos, pele e ossos mínimos no alaranjado feio da capa do meu sofá, e faz a casa, de repente um pouco mais bonita. E enquanto o fotografo, penso comigo que o Cazuza errou, porque neste mundo feroz só os gatos [amados] são felizes. Por Eduardo Araújo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CLAUDIA LIMA em NÃO DEIXE O SAMBA MORRER

https://www.facebook.com/events/1870742896365187/ “Samba agoniza mas não morre” já disse o mestre Nelson Sargento. É tempo de resis...